Livro: Vox
Autoria: Christina Dalcher
Tradução: Alves Calado
Editora: Arqueiro
Rating: [rating=4]
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+ Exemplar cedido pela editora para resenha
Sinopse
O governo decreta que as mulheres só podem falar 100 palavras por dia. A Dra. Jean McClellan está em negação. Ela não acredita que isso esteja acontecendo de verdade.
Esse é só o começo…
Em pouco tempo, as mulheres também são impedidas de trabalhar e os professores não ensinam mais as meninas a ler e escrever. Antes, cada pessoa falava em média 16 mil palavras por dia, mas agora as mulheres só têm 100 palavras para se fazer ouvir.
…mas não é o fim.
Lutando por si mesma, sua filha e todas as mulheres silenciadas, Jean vai reivindicar sua voz.
Capa & Diagramação
Amo a simplicidade da capa! O vazio o posicionamento do texto, a fonte e as cores traduzem de uma forma muito inteligente o conteúdo do livro. A diagramação interna é comum, limpa e proporciona uma leitura confortável.
Personagens, Enredo & Impressões gerais
Eu ainda não li O Conto da Aia mas sou fã assídua da série de TV. Apesar de trazerem premissas parecidas o livro de Margaret Atwood e Vox são bem diferentes.
Em um primeiro momento, diria que no primeiro terço do livro, os enredos se assemelham muito. Christina Dalcher narra a repressão feminina acontecendo em tempos mais atuais (ou em algum futuro muito próximo), nos Estados Unidos, com o diferencial do tal do cronômetro, um dispositivo usado por todas as pessoas do sexo feminino (não importando a idade) que limita o número de palavras que podem ser ditas durante 24 horas.
Os outros dois terços do livro ganham um tom bem diferente de seu início. Tive a sensação de que a autora queria alcançar um público maior fazendo com que a história ganhasse ares de cinema ou, pelo menos, de um thriller literário. Dalcher deixa de lado o ponto principal do livro (a repressão feminina) e insere no enredo romance e um pouco de ficção científica. Em meio a tudo isso, Jean mostra traços egoístas de seu caráter compondo o tal thriller com um pitada de polêmica que os leitores tanto aprovam ultimamente.
“Todas aquelas casas são pequenas prisões, penso, e dentro delas existem celas na forma de cozinhas, lavanderias e quartos.”
Acredito que se a autora tivesse conservado o tom inicial do livro ele teria sido mais marcante, passado um mensagem mais relevante e, aí sim, poderia ser comparado (ou, pelo menos, colocado no mesmo grupo) de O Conto da Aia.
Gostei da abordagem utilizada na relação de Jean com homens em geral e principalmente com seu filho mais velho. É interessante observar a raiva constante sentida pela personagem devido ao poder que no livro pertence aos homens (as mulheres não podem ler, escrever, dirigir…) e sobretudo a confusão de sentimentos causada nela ao ver seu filho mais velho totalmente seduzido por essa nova “doutrina”. É impossível não comparar esse turbilhão confuso de sentimentos com o que o povo brasileiro (ou grande parte dele) passou nos meses anteriores à última eleição.
Apesar das ressalvas, li o livro muito rápido pois a escrita envolvente e capítulos curtos fazem a leitura passar voando. Indico para quem gosta de O Conto da Aia ou para quem gosta de um thriller leve e gostoso de ler.
Pontos positivos: leitura fluída, premissa interessante, luta feminista, empoderamento feminino.
Pontos negativos: premissa mal utilizada.